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Ela Marte: Psicologia, Arte e a Expressão do Inconsciente

Marcela Caetano, conhecida artisticamente como Ela Marte, é uma talentosa artista visual, ilustradora e muralista brasileira. Com formação em Psicologia, Marcela utiliza a arte como meio para traduzir emoções, histórias e a complexidade da vida, incorporando reflexões existenciais em suas obras. Suas criações destacam-se por cores vibrantes e formas marcantes, explorando símbolos, significados e referências da cultura brasileira e da língua portuguesa.

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Fonte: Ela Marte

O que faz um artista? Para Marcela Caetano, a resposta vai além da técnica. Ela acredita que a arte é um processo profundo de autodescoberta, um reflexo da conexão entre a arte e a psicologia e, acima de tudo, uma expressão da liberdade criativa. Seu trabalho, hoje, com traços vibrantes e intuitivos, é um mergulho no inconsciente e na identidade cultural brasileira, refletindo sua jornada pessoal e emocional.


Marcela se formou em psicologia em 2022, mas foi durante a faculdade que começou a enxergar a arte como algo além de um hobby. Interessada pela psicologia analítica de Jung e pelo conceito das mandalas terapêuticas, ela percebeu o impacto do desenho no autoconhecimento e na expressão emocional. "Jung desenhava uma mandala por dia no seu diário. Ele percebeu que elas expressavam muito do que ele estava sentindo naquele momento", conta. Essa experimentação inicial a levou a explorar mais o desenho, até que, em 2019, incentivada por sua mãe, pintou a primeira parede em casa. O que começou como um exercício despretensioso se transformou no Ela Marte, seu projeto artístico que hoje ocupa seu tempo integral.


MashUp: Como surgiu o nome Ela Marte?


Marcela Caetano: No início, o nome que eu usava era "Arte de Marcela", mas eu sentia que precisava de algo mais envolvente e único. Durante uma conversa com uma amiga, começamos a brincar com as palavras e, a partir disso, surgiu "Ela Marte". Esse nome é um anagrama do meu próprio nome, Marcela, sem o 'c', e, ao mesmo tempo, traz uma conexão com "arte". A beleza está nas várias formas de interpretação: muitas pessoas leem como "ela ama arte", o que é uma leitura interessante, mas também há quem veja uma referência direta ao planeta Marte. Na época, eu era muito envolvida com astrologia, e Marte, como símbolo de energia e impulso, fez total sentido para mim. O que é curioso é que, quando olho para tudo o que "Ela Marte" se tornou, vejo que esse processo de escolha do nome aconteceu quase por acaso. No começo, eu só queria algo que refletisse minha essência e minha paixão pela arte de forma mais autêntica. Então, essa brincadeira com palavras acabou se tornando a identidade que carrego até hoje.

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A influência da psicologia no trabalho de Marcela se manifesta tanto nas formas quanto nos símbolos recorrentes.


MashUp: Seu trabalho carrega significados profundos? Isso sempre foi intencional?


Marcela Caetano: Quando comecei, meu foco era muito em como a arte impacta nossa vida, especialmente a saúde mental. Se você olhar para o meu Instagram de início, verá que eu falava bastante sobre psicologia, explorando como a arte pode refletir no nosso bem-estar. Eu costumava criar posts com frases ligadas a conceitos psicológicos. Uma das que eu mais gosto é "o vazio dá sentido para a vida", que vem de um conceito da psicanálise. Minha jornada começou assim, com essa conexão entre arte e psicologia.


Em meu trabalho, o símbolo do mergulho aparece com frequência, e isso tem a ver com a psicologia analítica de Jung, que fala sobre símbolos como imagens que têm significados além de suas definições objetivas. Esses símbolos podem carregar significados universais, que são comuns a um inconsciente coletivo, mas também podem ter interpretações pessoais. Isso sempre foi algo muito presente nas minhas criações. A primeira coleção que lancei no site, chamada "Símbolos", trazia bastante essa ideia de imagens carregadas de significados profundos, como o olho, que é um símbolo recorrente no meu trabalho.


Mas, à medida que fui me permitindo explorar mais livremente a minha arte e amadurecendo profissionalmente, comecei a me afastar um pouco dessa rigidez. Passei a criar não apenas com significados profundos e filosóficos, mas também por puro prazer de criar, sem a necessidade de atrelá-los a teorias psicológicas. Foi um processo de libertação, de entender que a arte também pode existir para a criação pura, sem sempre ter que carregar um significado específico.


MashUp: Sua relação com a cultura brasileira influenciou esse processo?


Marcela Caetano: Eu não tinha essa conexão tão forte com o Brasil no início. Não ouvia muita música brasileira, por exemplo. Mas, naturalmente, fui me identificando mais e comecei a estudar a cultura, o folclore, os símbolos regionais. Essa pesquisa culminou na série ‘Tropicália’, uma celebração da fauna e flora brasileiras, e em projetos como com a Moralist, na qual explorei as cinco regiões do país. É, e a partir dela fui desenvolvendo outras coisas, gostei daquilo e aí eu fui criando outras. E aí eu foi também um processo de de identificação, sabe, com a minha própria cultura. É, estudar um pouco mais sobre a cultura brasileira.

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Fonte: Ela Marte

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Fonte: Ela Marte

MashUp: Seu uso de cores é bem vibrante. Isso sempre foi natural para você?


Marcela Caetano: É engraçado porque, no começo, eu fazia muitas obras em preto e branco, e me vestia muito dessa forma também. Eu achava que era uma pessoa muito neutra, mas, na verdade, não sou. Com o tempo, fui percebendo que sou uma pessoa muito expansiva, e isso se refletiu na minha arte. Hoje em dia, sou muito mais colorida, tanto na minha personalidade quanto no meu trabalho. As cores vibrantes passaram a ser uma forma de expressar essa expansividade e extroversão.


Minha jornada artística também foi um processo de autodescoberta. No início, eu queria que minhas obras fossem clean e harmônicas, com um certo controle, quase como uma necessidade de manter as coisas 'limpas'. Mas isso acabou me restringindo. Quando comecei a me permitir usar mais cores, minha arte se transformou, ficando mais vibrante e livre, refletindo cada vez mais quem eu sou.


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Com o crescimento do Ela Marte, precisou estabelecer uma separação entre trabalho e lazer. "Quando seu hobby vira trabalho, ele deixa um pouco de ser hobby. Então, decidi que minha produção profissional seria digital, enquanto o analógico ficaria para momentos mais pessoais". Ainda assim, ela mantém sua paixão por trabalhos físicos, pintando paredes, personalizando objetos e realizando oficinas criativas.


A praticidade do digital também influenciou seu processo criativo. "É muito mais rápido. No digital, posso testar, apagar e refazer quantas vezes quiser, algo impossível no analógico". Mas essa velocidade também tem um lado negativo. "A gente perde um pouco o tempo do processo, da paciência para criar algo do zero, sem a opção de desfazer com um toque".


MashUp: Eu imagino que, com tantas ideias, deve haver uma certa seleção do que seguir ou não. Como você decide quando uma ideia não é o momento certo para ser executada ou quando deve ser deixada de lado?


Marcela Caetano: Eu tenho muitas ideias, mas a grande maioria delas acaba não sendo executada. O que funciona para mim hoje é: se uma ideia surgir e eu puder colocá-la em prática naquele momento, eu faço. Para ser sincera, se deixar para depois, a chance de não concretizar é grande. Quando começo a trabalhar em algo, sei que, no começo, vai parecer feio ou estranho – é só um esboço, uma tentativa de ver se aquilo toma forma. Às vezes, o esboço não evolui, e eu acabo desistindo. Eu costumo ser mais rápida em desistir do que em insistir, porque, quando vejo que não está dando certo, penso: Não vale a pena continuar. Mas algumas das melhores coisas que fiz foram justamente aquelas em que insisti. Um exemplo é uma arte que fiz chamada "Brazilian Sauce". A ideia surgiu do nada, numa noite aleatória. Eu estava pensando no molho brasileiro, e me veio a ideia de desenhar uma pimenta como se fosse um frasco de molho. O primeiro esboço estava horrível, todo rabiscado, mas eu decidi seguir com a ideia. Insisti, terminei na mesma noite e, no final, ficou incrível. É uma das minhas obras preferidas. Mas, sinceramente, a maioria das ideias não segue esse caminho de sucesso.


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A identificação comseu trabalho vai além das fronteiras brasileiras. Muitas pessoas que vivem no exterior compartilham: "Estou de férias aqui e vou levar isso para casa, porque sinto muita falta do Brasil. É uma forma de ter um pedacinho do país comigo." É como se fosse um abraço, uma conexão imediata, como se dissessem: "Essa pessoa me entende, isso ressoa comigo." É nesse lugar que sua arte também toca as pessoas, porque, muitas vezes, também me encontro em situações em que vejo algo e penso: "Não estou sozinha nesse sentimento. Isso não é algo individual, é uma experiência compartilhada." 


Além do seu trabalho autoral, Marcela vê a arte como uma ferramenta de reconexão. "A criatividade é um músculo. Se não exercitamos, ela atrofia. Quando somos crianças, desenhamos, fantasiamos, criamos sem medo. Mas, conforme crescemos, isso vai se perdendo". Seu desejo é incentivar mais pessoas a se reconectarem com o ato de criar, sem a pressão de serem necessariamente boas.


"A gente desiste de hobbies porque acha que precisa ser ótimo neles. Mas não precisa. Criar é sobre se permitir explorar, errar, experimentar".

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Por Rafaela Fornitani             8 de janeiro de 2025

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