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George Byrne: Fragmentos Urbanos e Abstrações Sintéticas

George Byrne é um artista visual que transforma o cotidiano urbano em composições abstratas e oníricas. Suas fotografias em grande escala transformam superfícies e paisagens do dia a dia de Los Angeles em abstrações pictóricas. A estética do artista é inspirada na clareza e vivacidade da pintura modernista e, ao mesmo tempo, remete ao movimento fotográfico New Topographics, com um olhar profundamente enraizado no urbano.

George Byrne
Fonte: George Byrne

Desde o início, a experimentação foi central em sua abordagem. “Os primeiros ajustes digitais que fiz nas minhas fotos eram coisas simples de composição. As imagens que eu tirava em Los Angeles estavam se tornando cada vez mais simples e geométricas, então a divisão exata do espaço passou a ser central para o sucesso e o equilíbrio das imagens.” O avanço real veio quando George começou a combinar partes de diferentes fotografias, criando composições híbridas que flertam com a abstração. “Tudo isso pode parecer insanamente simples, mas eu não sou bom com tecnologia, ainda não sou bom com Photoshop, uso como uma criança de 8 anos! Mas acho que minhas limitações provavelmente funcionaram a meu favor.”

Ao longo da última década, Byrne começou a enxergar seu trabalho como uma forma de pintura digital. Essa transição se deu, segundo ele, quando passou a expor suas obras em grande escala.

MashUp: Como essa transição da fotografia tradicional para uma abordagem mais livre e experimental impactou sua visão sobre o que significa “capturar” uma imagem?

George: Quando você aceita a fotografia como algo maleável, e não fixo, você entra no campo da pintura digital. Ou, pelo menos, é um híbrido de fotografia e pintura. Pode até ser baseado em fotografia, mas o resultado não é a realidade, é mais uma impressão. Recentemente, conversei com um amigo sobre essa ideia, em relação a como a tecnologia de IA está sendo incorporada nos softwares de fotografia dos novos smartphones. Isso significa que a maioria das fotografias tiradas pelas pessoas será, em maior ou menor grau, alterada: Está nublado? Eu faço um dia ensolarado. A mesa era marrom? Eu a faço vermelha. Eu estava carrancudo? Agora estou sorrindo. E por aí vai. Tudo isso vai se tornar cada vez mais fácil, comum e aceito.

A A ideia de fotografia ‘pura’ e ‘verdadeira’ se tornará algo de nicho, como o vinil em relação ao streaming de música. Claro, o fotojornalismo ainda precisará de fotografia fiel à realidade, e alguns artistas e pessoas ainda serão puristas, mas a maioria das pessoas usará a fotografia para alterar imagens cada vez mais.O ponto que eu estava levantando é que é quase como se estivéssemos dando uma volta completa com a fotografia, no sentido de se tornar uma ferramenta que as pessoas usam para criar impressões das coisas, como a pintura era antes da invenção da fotografia.

No meu processo, quando comecei a abraçar essa abordagem experimental, parei de buscar o quadro perfeito e comecei a procurar material interessante para brincar no estúdio.

MashUp: Você, que trabalha com uma combinação híbrida e utiliza fotografia analógica, já sentiu frustração com o processo, como as limitações do filme, por exemplo?

George: Pode ser complicado lidar com isso, mas comecei na fotografia usando filme, então é o que me sinto mais confortável. Também acho que ainda fica melhor para o tipo de fotografia pela qual sou apaixonado. O filme não é apenas sobre o resultado, é sobre o processo, suas limitações fazem você trabalhar e pensar de forma diferente. Se sei que tenho 10 quadros para trabalhar, vou me envolver com um assunto de maneira diferente do que se tivesse uma câmera digital com 1200 quadros. Não estou sugerindo que os resultados sejam melhores ou piores, mas a experiência é muito distinta e se adapta a algumas pessoas dependendo do tipo de trabalho que estão fazendo.

Essa abordagem híbrida reflete-se também em sua série mais recente, Synthetica. Lançada em 2024, a série explora essa fusão entre técnicas analógicas e digitais, resultando em paisagens hiper-reais e poéticas.

 “Synthetica é a encarnação mais recente de minha evolução. Quando comecei a fotografar em Los Angeles no início dos anos 2010, meu estilo era mais tradicional, seguindo a linha dos New Topographics, ou seja, fotografias cruas, sem retoques, de espaços urbanos feitas em filme colorido. As impressões eram pequenas. Nos anos seguintes, levei meu trabalho para um contexto muito diferente. Comecei a incorporar várias formas de manipulação e colagem para criar paisagens oníricas hiper-realistas e pictóricas, projetadas para serem exibidas como impressões em larga escala. Synthetica é a encarnação mais recente dessa evolução.”

Byrne revela que seu interesse pela abstração vem da capacidade de criar composições que atingem o espectador de forma instintiva. “A abstração tem algo mágico que é difícil de explicar. Quando funciona, ela toca de forma profunda, como uma boa música. Há algo elementar nisso”, afirma.

Fonte: Synthetica I George Byrne
Fonte: Synthetica I George Byrne

MashUp: Você disse que seu trabalho busca transcender a representação direta ou uma narrativa linear. Pode explicar como traduz princípios espirituais em forma visual?

George: Meu trabalho joga com a ideia de distorcer os detalhes urbanos mais banais. Uso o ambiente construído para criar paisagens oníricas hiper-reais. Há manipulação, claro, mas os cortes ou junções são invisíveis de propósito. Como combino inúmeras perspectivas em uma única imagem, tentar entender as fotos pode ser difícil. Acredito que esse impulso de tentar decodificar ou racionalizar as imagens seja parte do motivo pelo qual elas funcionam. Isso faz com que a experiência de olhar para as imagens seja ativa, não passiva; há uma troca acontecendo. Por um lado, estou celebrando a beleza do cotidiano, mas também estou criando uma ilusão de simplicidade e harmonia. Centenas de horas de trabalho detalhado e consideração entram na criação das imagens para fazê-las parecerem e se sentirem do jeito que são. 

Vejo esse processo como algo intrinsecamente espiritual, no sentido de refletir como experienciamos a realidade — não como uma perspectiva fixa e única, mas como uma interação contínua de percepção, memória e ilusão. Meu trabalho busca incentivar um estado de consciência além da superfície, convidando o espectador a se engajar em uma forma de meditação: um confronto silencioso com a imagem. Embora eu não siga nenhum sistema de crenças espirituais, para mim, tudo isso é a essência da transcendência — não escapar da realidade, mas expandir a forma como nos envolvemos com ela, criando espaço para o desconhecido, o imperceptível e o sublime no cotidiano.

Fonte: Synthetica I George Byrne

Seu processo criativo é fluido e instintivo. Muitas vezes, ele começa com digitalizações de baixa resolução e evolui através de colagens meditativas. Decidir quando uma imagem está finalizada é um desafio contínuo. “Algumas fotos levam semanas para serem concluídas, enquanto outras levam anos. É uma ciência inexata. Também tenho muito material acumulado que fotografei ao longo dos anos, então, ao montar uma nova exposição, não se trata apenas de tirar novas fotos, mas também de reavaliar trabalhos antigos para ver se deixei algo passar”, diz.

A mudança de Sydney para Los Angeles também foi um marco em sua carreira. Ele não foi para LA para perseguir a carreira de músico, mas entre as cores desbotadas e a arquitetura decadente dos anos 70 e 80, as palmeiras e os reflexos metálicos de pátios de carros, George encontrou os cenários que começaram a moldar seu trabalho.“Quando cheguei em LA, tive uma verdadeira epifania visual, então meu impulso para tirar fotos veio de um lugar muito puro — eu só queria registrar o que estava vendo.”.

MashUp: A sociedade valoriza o sucesso profissional precoce, mas você só começou a ganhar reconhecimento após os 30. Já sentiu pressão em relação a isso, especialmente financeiramente?

George: Senti muita pressão no final dos meus 20 anos para deixar minha marca, o que, olhando para trás, parece tão ridículo. Naquela época, eu era músico em tempo integral e, na música, ainda mais do que nas artes visuais, o etarismo é real. Aos 35 anos, você já é considerado “velho demais”! Passei por tudo isso. Houve períodos em que me sentia muito para baixo por não ter dinheiro enquanto todos os meus amigos estavam tendo filhos, se estabelecendo e encontrando bons empregos, mas todos passamos por essas coisas no nosso próprio tempo. No início dos meus 30 anos, quando me mudei para Los Angeles, senti um enorme alívio das expectativas que eu tinha sobre mim mesmo. Talvez isso tenha feito parte do motivo pelo qual eu estava tão receptivo à cidade e ao modo como a via e sentia. Mesmo estando quebrado, eu estava animado. Também estava cercado por muitas pessoas da minha idade e mais velhas em situações semelhantes. Dito isso, não foi fácil — muitas vezes vivia de mês em mês, trabalhando em empregos temporários e me virando para sobreviver. Era estressante. Mas toda essa experiência me serviu bem, porque, aos 37/38 anos, quando de repente tive algumas oportunidades com a fotografia, eu estava preparado para aproveitá-las ao máximo. Eu não vacilei.

Apesar dos desafios típicos da vida de artista, George admite com humor que ter filhos o incentivou a ter mais foco, já que agora tem mais uma boca para alimentar!

O fato é que entre abstrações urbanas e a magia do cotidiano, George Byrne ressignifica o banal e o transforma em poesia visual. Seu olhar revela um mundo que parece invisível a quem passa apressadamente, mas que, nas suas mãos, se torna um universo paralelo — introspectivo, fragmentado e atemporal.

“Um dos maiores elogios que posso receber é quando alguém me diz que minhas fotos os encorajaram a olhar o mundo de uma maneira diferente, a não dar como garantidas as coisas do dia a dia e perceber que há beleza ao redor. Eu só espero que as pessoas possam olhar para meu trabalho , gostem de olhar para ele e pensar sobre ele. Espero que faça as pessoas se sentirem centradas, calmas e introspectivas”

CURIOSIDADES

1- Se pudesse colaborar com qualquer artista:  Willem De Kooning, ele é simplesmente um grande fã.

2- A coisa mais estranha que alguém já lhe disse sobre sua arte:Não há nenhum comentário realmente maluco que se destaque, mas muitas vezes as pessoas me dizem que uma imagem minha tem um significado simbólico muito específico e pessoal para elas e suas vidas… o que é incrível.

3- O conselho mais esquisito: Uma vez, alguém me disse que eu deveria imprimir todas as minhas imagens no tamanho de um selo postal e enviá-las para mim mesmo por correio registrado, para fins de direitos autorais. A intenção dele era boa, mas isso não me influenciou em nada, haha!

 

 

 

 

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